“Termino o livro e fecho o computador sabendo que, por mais que os escritores escrevam, os músicos componham e cantem, o essencial não tem nome nem forma: é descoberta e assombro, glória ou danação de cada um." (LYA LUFT)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Civilização - Eça de Queirós

       O conto Civilização, do português Eça de Queirós, narra a vida de Jacinto, um homem novo e culto que vivia luxuosamente, rodeado dos mais sofisticados e recentes inventos. Apesar de todo o luxo em que vivia, o personagem era um homem sempre aborrecido, desanimado e entediado, o protótipo do homem civilizado, mas também da infelicidade. Tudo muda quando decide passar uma temporada bem longe da civilização. 
        Embora, inicialmente, tenha dificuldades em adaptar-se à vida longe de todos os objetos que antes considerava indispensável para seu conforto, Jacinto acaba invadido e transformado pela beleza e simplicidade da vida campestre. E é assim, longe da civilização, dispensando os exageros do luxo, que redescobre o prazer e a alegria de viver. 
        O trecho que se segue é o meu preferido, e nele o narrador faz uma belíssima reflexão, enquanto admira a paisagem campestre. O texto, na íntegra, pode ser conferido no link http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/port/civilizacao.htm
  
         "(...) na cidade nunca se olham os astros por causa dos candeeiros — que os ofuscam: e nunca se entra por isso numa completa comunhão com o universo. O homem nas capitais pertence à sua casa, ou, se o impelem fortes tendências de sociabilidade, ao seu bairro. Tudo o isola e o separa da restante Natureza — os prédios obstrutores de seis andares, a fumaça das chaminés, o rolar moroso e grosso dos ônibus, a trama encarceradora da vida urbana… Mas que diferença, num cimo de monte, como Torges! Aí todas essas belas estrelas olham para nós rebrilhando, à maneira de olhos conscientes, umas fixamente, com sublime indiferença, outras ansiosamente, com uma luz que palpita, uma luz que chama, como se tentassem revelar os seus segredos ou compreender os nossos… E é impossível não sentir uma solidariedade perfeita entre esses imensos mundos e os nossos pobres corpos. Todos são obra da mesma vontade. Todos vivem da ação dessa vontade imanente. Todos, portanto, (...) constituímos modos diversos de um ser único, e através das suas transformações somamos a mesma unidade. Não há ideia mais consoladora do que esta — que eu, e tu, e aquele monte, e o Sol que, agora, se esconde são moléculas do mesmo Todo, governadas pela mesma Lei, rolando para o mesmo Fim. Desde logo se somem as responsabilidades torturantes do individualismo. Que somos nós? Formas sem força, que uma Força impele. E há um descanso delicioso nesta certeza, mesmo fugitiva, de que se é o grão de pó irresponsável e passivo que vai levado no grande vento, ou a gota perdida na torrente!"

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